quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Imprensa: uma análise historiográfica das eleições de 1989

Cristiano Guerra Leal

O presente artigo intitulado "Imprensa: uma análise historiográfica das eleições de 1989 aborda a questão referente às eleições do ano de 1989, precisamente, o embate entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, e como foi conduzido  o debate organizado pela Rede Globo. Realizaremos então uma discussão historiográfica sobre o papel da mídia neste processo de suma importância na história brasileira.

A escolha para o presidente da República era muito aguardada pela população brasileira no ano de 1989, pois isso não ocorria há 29 anos. Com as atuais circunstâncias, os candidatos que se destacaram na primeira fase das eleições, eram aqueles que conseguiam mexer com a emoção popular, eram eles: Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello.

Brizola, que havia sido cassado pelo golpe de 1964, voltou ao Brasil e conseguiu se eleger governador do Rio de Janeiro. Tinha um forte apelo em amplos setores do eleitorado, com sua luta contra os "inimigos da pátria". Porém, logo foi passado por Fernando Collor de Mello, político jovem, que vinha de uma família ligada a política, neto de Lindolfo Collor, político que organizou a legislação trabalhista no começo do Governo Vargas; e filho de Arnon de Mello, deputado alagoano. De discurso inflamado, se proclamava um herói solitário, que lutava contra a corrupção, representada na figura dos Marajás. Notamos que esse discurso foi reforçado em uma das capas da revista Veja, como podemos ver abaixo:

Imagem 1. Capa da Revista Veja, Edição de 1989

O discurso de Collor ganhava o apoio da mídia, já que ele oferecia a solução para a população brasileira, que era um homem de pulso firme para acabar de vez com a corrupção e a inflação que assolava os brasileiros.

Sua campanha recebeu apoio de setores econômicos e sociais, pois estes tinham receio de que a disputa poderia ser realizada somente com políticos de esquerda, a campanha 'collorida' foi muito agressiva. Principalmente com os ataques realizados ao governo Sarney e aos seus concorrentes mais próximos. O 'Caçador de Marajás' mostrava suas armas e seus métodos iam surtindo efeito.  A aliança de todos esses aspectos fez com que o governador de Alagoas liderasse as pesquisas e se garantisse no segundo turno. Podemos ver na imagem abaixo, a força de marketing que o partido de Collor possuía.


Imagem 2. Imagem que retrata a mudança do logotipo de Collor de quando concorreu para governador e posteriormente para presidente



Lula, com sua história pessoal de pobreza que se confundia com a maioria do povo, corria por fora que nessa disputa teve uma arrancada, conseguindo superar Leonel Brizola. Assim, definia-se a disputa do segundo turno, com Fernando Collor, o 'fenômeno das Alagoas' e Luiz Inácio, o 'líder operário' do ABC paulista.

Collor, através de sua experiência com os meios de comunicação, foi conquistando e tendo acesso ao imaginário político nacional. Seu modo de falar e de agir frente às câmeras, proporcionava a ele prestígio, como podemos comprovar nesta imagem recortada de um vídeo na sua apresentação no debate do segundo turno, transmitido pelas emissoras de TV de destaque na época: Bandeirantes, Manchete, SBT e Globo:


Imagem 3. Imagem recortada do vídeo do Debate realizado entre Collor e Lula em 1989



Percebemos que Collor utiliza de uma técnica de autopromoção voltada para captura da atenção das câmeras de televisão. Acessando o link e vendo o vídeo, iremos perceber que enquanto Lula já tentava mostrar suas idéias ao público brasileiro em sua apresentação, Collor fazia uma saudação cordial, referindo-se até a uma data significativa para a população brasileira, o Natal. Mencionando ainda o nascimento do principal personagem da religião católica.



Imagem 4. Imagem recortada do vídeo da Rede Povo

Collor também se refere, em sua visão, também a linha que Lula baseia suas idéias, na corrente marxista, utilizando deste ponto para dizer que o seu adversário iria contra os princípios democráticos que a população brasileira procurava.

Esse debate que estamos utilizando para esta análise, mostra também vários processos de edições, assim alterando algumas falas do candidato Lula nele mostradas, como por exemplo, aos 6 minutos e 13 segundos, após a pergunta do jornalista Joelmir Betting, que referia-se a proposta de governo  para a dívida pública e o dinheiro do povo em bancos, Collor se diz contra os calotes e logo em seguida sua fala é cortada para Lula, que realiza um discurso confuso, que não teria algo haver com a pergunta feita. 

Ao buscar mais materiais para análise, um vídeo interessante realizado pela Rede Povo, mostrando certos fatos que comprovam que essa edição foi utilizada, no intuito de ‘prejudicar’ o candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Logo em seu começo, o vídeo mostra Collor fazendo uma aparição no ano de 1987 em um programa que comemorava os 70 anos de aniversário do apresentador Chacrinha, onde ainda exercia seu mandato de governador em Alagoas. Desde então, suas aparições na televisão eram mais freqüentes.



Imagem 5. Imagem recortada do vídeo da Rede Povo



Isso nos remete a pensar que Fernando Collor já poderia ter um bom relacionamento com os meios de comunicação de destaque naquela época e que já poderia estar estudando suas estratégias para a campanha presidencial. Seguindo ao longo do vídeo, podemos ver um relato de um jornalista que supervisionou em sua edição, no debate das eleições de 1989, chamado Vianey Pinheiro. Claramente o jornalista diz que duas pessoas alteraram na essência o resumo do debate, e que isto virou uma peça publicitária.

Outros jornalistas também fizeram comentários sobre as edições realizadas no conteúdo da Rede Globo de televisão, um deles, Armando Nogueira, relatou que no dia seguinte ao compacto do debate, que não havia assistido o material e que se tivesse visto, teria impedido que fosse ao ar, e  teria dito que a Rede Globo havia sido infeliz e burra.


Imagem 6. Imagem recortada do vídeo da Rede Povo


Através deste material estudado, descobrimos outra versão para a história das eleições de 1989, que muitas vezes não são contadas em salas de aula. E a intenção deste artigo é mostrar como se pode ser trabalho este tema, com linguagens diferenciadas, explorando assim as diversas fontes para a pesquisa, renovando assim o ensino de História, como podemos ver na fala de Cooper:

fazer inferências sobre as fontes, sobre quem as fez, porquê, como podem ter sido utilizadas e como afectaram a vida quotidiana do passado, pode levar o historiador a considerar como é que estas pessoas pensavam e o que sentiam. Desenvolver esta imaginação histórica, formulando uma vasta variedade de suposições, é fundamental para se interpretar o passado.

Assim, iremos proporcionar aos alunos as diversas informações existentes de um fato, não correndo o risco de praticarmos uma história em que somente se evoca um lado, excluindo os agentes sociais envolvidos nela. E isto surgiu a partir dos novos conceitos da historiografia

O crescimento e as novas tendências da historiografia, no decorrer dos anos de 1970 e 1980, proporcionavam novos caminhos para o ensino e ampliava-se o debate sobre os paradigmas que deveriam fundamentar as novas propostas curriculares, incluindo nas discussões as possibilidades de inclusão das experiências das práticas profissionais nas escolas como forma de subsídio para as reformulações da História escolar (Silva, 1984; Fenelon, 1983).

Com estas novas tendências, se percebe a importância da ampliação de instrumentos para o ensino, como neste artigo, utilizamos vídeos postados no site Youtube, que são as novas tecnologias. Isso gera um aumento de informações para que enriqueça o debate, através de uma metodologia diferente de ensino, mostrando assim as outras versões existentes da história e gerando a possibilidade dos alunos conhecerem e se interessarem pelo conteúdo histórico.

Reafirmamos então que esta eleição de 1989 foi um marco para a histórica política do Brasil, onde acontece uma aproximação intensa com a mídia, como podemos comprovar

Sem dúvida, a eleição presidencial de 1989, realizada depois de 29 anos sem eleições diretas para presidente, aparece como acontecimento detonador de um boom imediato e posterior de reflexões sobre o enlace mídia e política. Pode-se afirmar que este acontecimento eleitoral, ao fazer emergir em toda sua potência estas novas conexões entre mídia e política, começa verdadeiramente a conformar um campo de estudos sobre comunicação e política no país, perpassado por olhares sintonizados com esta nova circunstância de sociabilidade acentuadamente midiatizada. 

A partir desse acontecimento a mídia se torna parte integral dos processos eleitorais, já que muitos brasileiros esperam os debates entre os candidatos para poder escolher o melhor político para o país, e muitas vezes, estes podem ser influenciados a votarem nos políticos que os meios de comunicação desejam eleger.

Referências bibliográficas

ALBINO, Antonio Canelas Rubim; ANTÔNIO, Fernando Azevedo. Mídia e Política no Brasil: Estudos e perspectivas. IV Congresso Latino americano de Ciências de la comunicácion, 1998.

BITTENCOURT, Circe Fernandes. Abordagens Históricas Sobre a História Escolar. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 36, n.1, p. 83-104, jan./abr., 2011.

COOPER, H. O pensamento histórico das crianças. In: BARCA, I. (Org.). Para uma
educação histórica de qualidade. Actas das IV Jornadas Internacionais de Educação
Histórica. Universidade do Minho, 2004. p. 55-76.

LATTMAN, Fernando. Como fazer um Presidente. Revista de História da Biblioteca Nacional São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

* Artigo produzido para a disciplina de Prática de Ensino em História, sob a orientação, da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“Os PMs armados e as tropas de choque vomitam Música Urbana”: abertura militar e o rock brasileiro dos anos 80

Benedito Carlos Silva

Sabendo que a “história é a ciência dos homens no tempo”[1]e que, as discussões em torno do ensino de história estão se tornado cada vez mais acentuadas, concomitante, os estudos feitos por historiadores alargam as maneiras de se pensar história; os educadores usando de criatividades, que o momento exige, partem para novas abordagens e discussões em sala de aula. Marc Bloch, o grande historiador francês, também diz que “são os temas do presente que possibilitam o retorno possível ao passado.”[2]

Trabalhando com esse duplo pensamento de Bloch e visando colaborar com professores de História, sugerimos o trabalho de análise e contextualização de letras de música. E, como o Rock in Rio que está na pauta deste ano, sugerimos analisar letras de rock brasileiros. O primeiro evento (Rock in Rio) coincidiu com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em janeiro de 1985, objetivamos contextualizar o rock do Brasil, principalmente na 1º metade da década de 1980, com o fim da ditadura militar: um grito atravessado na garganta.

Márcia Tiburi, colunista da Revista Cult, em seu artigo Rockfilosofia[3] demonstra o interesse de filósofos sobre o fenômeno do Rock. “A questão do rock é cultural e antropológica e, quando a tratamos como filosófica, há um mundo de reflexões a serem feitas”[4]. Podemos dizer também que, quando a tratamos como questão histórica, também temos muito a refletir sobre o movimento musical.

O período Figueiredo combinou dois traços que muita gente considerava de convivência impossível: a ampliação da abertura e o aprofundamento da crise econômica. Pensava-se que as dificuldades econômicas estimulariam conflitos e reivindicações sociais, levando a imposição de novos controles autoritários por parte do governo. A abertura seguiu seu curso, em meio a um quadro econômico muito desfavorável. Figueiredo tomou posse em março de 1979[5].

Como podemos perceber, o último governo militar, 1979-1985, tinha duas correntes que atrelavam seu governo ao compromisso com o processo de abertura para a democracia e tentar estancar a crise econômica. Poderemos usar de uma metáfora: o prisioneiro que passou anos numa cela e tem anunciada sua saída, mas que ao mesmo tempo não tem o que comer, ou seja, pode morrer de fome antes de ver a luz do sol novamente.

A recessão de 1981-1983 teve pesadas conseqüências. Pela primeira vez desde 1947, quando indicadores do PIB começaram a ser estabelecidos, o resultado em 1981 foi negativo, assinalando queda de 3, 1%. Nos três anos o PIB  teve um declínio médio de 1,6%.(...) A inflação alcançou o índice anual de 110% em 1980, caiu para 95,2% em 1981, para voltar a subir em 1982 99,7%. .[6]

A segunda crise do petróleo em 1979 contribuiu para isso. O governo Figueiredo não estava conseguindo controlar a inflação, a crise econômica abria um abismo no meio social. Uma pilastra que sustentava seu governo estava com enormes rachaduras. Porém, muito dessas rachaduras foram provocadas pelos governos militares anteriores. “No final do regime chegara a hora de pagar o dinheiro tomado emprestado por anos a fio dos trabalhadores e bancos internacionais, e não havia retorno suficiente de tantos  investimentos e empréstimos de favor”[7].

E o governo Figueiredo viveu essa crise gigantesca. “E a arte é o espelho social de uma época[8] . E para refletirmos mais um pouco: se Adorno e Horkheimer, ao estudarem o Canto XII da Odisséia de Homero, dizem que “a arte emerge como beleza impotente, sem eficácia, uma expressão sem conseqüências práticas, uma mera forma separada da ação”[9]. Por que então em tempos de regimes autoritários umas das primeiras classes a serem perseguidas são a dos artistas? Pois, em 1982 a Legião Urbana num show em Patos de Minas,[10] ela e a demais bandas, como Plebe Rude, foram chamadas para explicar as letras de músicas que cantavam. Iremos analisar a música que Renato teve que explicar:

 Música Urbana 2[11]
 Renato Russo

Em cima dos telhados as antenas de TV tocam música urbana,
Nas ruas os mendigos com esparadrapos podres
cantam música urbana,
Motocicletas querendo atenção às três da manhã -
É só música urbana.

Os PMs armados e as tropas de choque vomitam música urbana
E nas escolas as crianças aprendem a repetir a música urbana.
Nos bares os viciados sempre tentam conseguir a música urbana.
O vento forte, seco e sujo em cantos de concreto
Parece música urbana.

E a matilha de crianças sujas no meio da rua -
Música urbana.
E nos pontos de ônibus estão todos ali: música urbana.

Os uniformes
Os cartazes
Os cinemas
E os lares
Nas favelas
Coberturas
Quase todos os lugares.

E mais uma criança nasceu.
Não há mais mentiras nem verdades aqui
Só há música urbana.
Yeah, Música urbana.
Oh Ohoo, Música urbana.

A música urbana a qual o artista se refere pode ser pensada aqui como a ordem. A única ordem que ressoa por todo lado. A lei imposta pela ditadura: “a música urbana.” As ruas assistem a miséria popular, agravada pela inflação, “mendigos com esparadrapos poderes” e eles próprios não podem fugir da ordem, mesmo de uma certa forma à margem, eles também “cantam a música urbana”.

E num regime que só essa ordem, esse canto prevalece, alguém rasga a “madrugada querendo atenção”, ou seja, é preciso extravasar essa redoma imposta e os “PMs armados e as tropas de choque vomitam música urbana”. Já que eles são os “músicos”, que tocam essa canção, representantes dessa orquestra que se faz ouvir por todos os lados eles vomitam, ou seja, eles regurgitam aquilo que eles se alimentaram, o próprio regime.

E nas escolas as crianças aprendem a repetir a música urbana” Ao estudarem Moral e Cívica, ao saírem em filas indianas pelos pátios e, em ordem, cantarem todos os dias com a mão no peito, o Hino Nacional, uma ordem do quartel que as crianças aprendem a repetir.

“Os uniformes, os cartazes, os cinemas e os lares; nas favelas
coberturas, quase todos os lugares”. Quase nada escapa à música urbana. E aqui que me nos leva a pensar: qual seria o lugar onde a música urbana não atinge, não chega? Quero acreditar que os mortos sepultados pelo regime, esses não podem mais ouvir, pois quando tiveram a chance não dançaram conforme a música.

E se uma criança nasceu e já chora respondendo a música urbana. “Não há mentiras nem verdades aqui. Só há música urbana”. Lembrando que em 1981, ou seja, um ano antes, uma bomba tinha estourado dentro do carro de militares que a levavam para o atentado, no Riocentro, onde acontecia um festival de música com a presença de milhares de jovens; após a investigação “o governo de uma absurda versão dos fatos, inocentando os responsáveis”. [12]  A Música Urbana também é o silêncio do governo. É a verdade imposta. A criança que nasce já é abarcada por ela. Ouvindo a música estimula a interpretação. Se em todas as profissões há “uma perda da aura”[13], “continuar descobrindo coisas em nossa área pode ser uma forma de diminuir bastante esse desgaste. Ao levar para sala de aula músicas, criamos uma aproximação com o cotidiano nelas. Despertando o interesse para que, ao ouvir determinadas músicas, o aluno passe a prestar mais atenção na letra.  E temos que encontrar mecanismos para despertar a atenção do aluno. Para fazer  refletir a história numa letra de música, na música sugerimos que ao se trabalhar com esse foco, deve-se levar a música para ser ouvida). Desenvolver a temática História e música.

No artigo de Márcia Tiburi, ela diz pensar “o rock como uma complexa prática estética que é também política (...) como manifestação da vontade. (...) Quero dizer que o que o  rock traz ao mundo é uma autorização contra o autoritarismo[14]. Nos anos de 1980 houve uma explosão do rock brasileiro. No meio da década o Rock in Rio trouxe as maiores bandas do planeta para o Brasil. Assistiu-se ao surgimento de bandas como a Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs e outras. A ditadura estava chegando ao fim era preciso anunciar aos quatro cantos. Soltar esse sentimento contido, “ele faz isso por meio da pratica estética que foi recalcada ao longo da história” [15]

No curso de 1983, o PT assumiu como uma de suas prioridades promover uma campanha pelas eleições diretas para a presidência da República. Pela primeira vez, sua direção dispôs-se a entrar em uma frente com os outros partidos para alcançar esse objetivo. Por sua parte, em junho daquele ano, a direção nacional do PMDB decidiu lançar uma campanha no mesmo sentido que começou com um pequeno comício em Goiânia [16]

Embora tímida em 1983 essa campanha pelas diretas, logo em janeiro de 1984 ultrapassará todas as expectativas. Havia essa atmosfera de entusiasmo que vai grassando, tomando corpo até se tornar um gigante. Em 1983 o Barão Vermelho, embalado por esse entusiasmo lança o disco Maior Abandonado, na faixa 5 a música “Milagres” vamos ver o que ela nos diz:

Milagres[17]
Cazuza / Roberto Frejat / Denise Barroso
Nossas armas estão na rua
É um milagre
Elas não matam ninguém

A fome está em toda parte
Mas a gente come
Levando a vida na arte

Todos choram
Mas só há alegria
Me perguntam
O que é que eu faço?
E eu respondo:
"Milagres, milagres"

As crianças brincam
Com a violência
Nesse cinema sem tela
Que passa na cidade

Que tempo mais vagabundo
Esse agora
Que escolheram pra gente viver

Todos choram
Mas só há alegria
Me perguntam
O que é que eu faço
E eu respondo:
"Milagres, milagres"

As armas que estão nas ruas é o movimento das “Diretas Já”. É cada manifestante que quer gritar, assim como o rock, a democracia. Essas armas não matam ninguém: a liberdade de expressão, de já poder manifestar sem tanta recriminação. Também é a arte a arma. A arte, no caso a música, permite lutar sem armas. O microfone e a voz são as espadas e canhões. Se por conta da situação econômica a “fome está em toda parte”, o artista sobrevive levando na arte; as pessoas também vivem levando a vida na esperança de sair logo desse pesadelo: arte e esperança, motrizes da humanidade. Apesar do choro pela fome há um entusiasmo, uma alegria que tudo irá mudar. “Que tempo mais vagabundo/ esse agora/ que escolheram pra gente viver”.

Séculos de transformações e tragédias. O livro é de 1980. A insatisfação do homem com seu tempo. A dialética de Hegel diz que “ a flor nega o botão, assim como o fruto nega a flor e que, essa contínua oposição é que promove o dinamismo orgânico do processo como um todo.” [18]

O artista nega seu tempo para fazer dele algo melhor, mais condizente com o sonho interior. O título da música me causa muita curiosidade: Se no governo Médici, vivemos o “Milagre Econômico” o efeito tinha passado. Agora é tempo de um Milagre maior e mais abrangente: o Milagre Democrático. Embora o auto chame a atenção para a fome, o que fica evidente na  música e a manifestação popular que agita a cena. E ele grita. “Milagres!”
Em março de 1985 o governo de João Baptista Figueiredo chegou ao fim. Com ele também chegou ao fim um regime autoritário, que durou praticamente 21 anos. Em 1986, o Titãs em se LP Cabeça de Dinossauro já grita com toda força:

Polícia [19]           
Tony Bellotto
Dizem que ela existe pra ajudar
Dizem que ela existe pra proteger
Eu sei que ela pode te parar
Eu sei que ela pode te prender
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia
Dizem pra você obedecer
Dizem pra você responder
Dizem pra você cooperar
Dizem pra você respeitar
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia

Nada mais justo e o Rock fez essa justiça: João Baptista Figueiredo foi o governante que encerrou o ciclo dos militares no poder; ele dizia que gostava “mesmo de quartel e de toque de clarim”[20] Agora tinha que ouvir o grito do rock da banda Titãs esbravejando no mais alto som “Polícia para quem precisa de polícia”.Infelizmente, ainda precisamos de polícia, mas espero que na administração do país nunca mais.

*Artigo produzido para a disciplina de Prática de Ensino em História sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade, da Universidade do Vale do Sapucaí.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOCH, Marc. Apologia da História ou O ofício do historiador. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001,

Entrevista de Raul Seixas começo dos anos 1980. Rede Globo

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

REVISTA Grandes líderes da História. Os presidentes da Ditadura Militar.

KARNAL, Leandro, PINKY Carla Bassanezi, (orgs): A História na Sala de Aula. São Paulo. Editora: Contexto. Pág.11

Revista Cult nº158

Revista Filosofia: Heidegger e as Tecnologias Nocivas.





[1]BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício do historiador. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, pág.07
[2] Idem.
[3]Revista Cult nº158. pág.36
[4] Idem
[5] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Pág.501
[6] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Pág.502-503
[7] Grandes líderes da História. Os presidente da Ditadura Militar. Pág.42
[8] Entrevista de Raul Seixas começo dos anos 1980. Rede Globo
[9] DOSSIÊ, Cult. Edição Especial. Escola de Frankfurt. Pág. 17
[10] LIMA Alessandro, Feras do Rock. Pág. 23
[12] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Pág.505
[13] KARNAL, Leandro, PINKY Carla Bassanezi, (orgs): A História na Sala de Aula. São Paulo. Editora: Contexto. Pág.11
[14] Revista Cult nº158.Pág.36
[15] Idem
[16] FAUSTO, Boris. História do Brasil.São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Pág.509
[18] Revista Filosofia: Heidegger e as Tecnologias Nocivas. Pág. 46
[20] Grandes líderes da História. Os presidente da Ditadura Militar. Pág. 38

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino





Cronograma de apresentação de trabalhos

GRUPO DE TRABALHO: POPULAÇÕES, ESPAÇOS, ECONOMIA E TERRITORIALIDADE

GT 1 – 8/12
Coordenador: Alexandre Carvalho de Andrade (UNIVÁS - UNESP Rio Claro)
Trabalho / autor (es)
Horário
Os resignificados históricos da estação ferroviária de Pouso Alegre (MG) / Ana Eugênia Nunes de Andrade
16:00 – 16:15
A cidade desejada e a cidade oculta: a paisagem periférica no contexto do espaço urbano de São Lourenço (MG) / Alexandre Carvalho de Andrade e Rafael de Mello Castro Bacha
16:15 – 16:30
Cadeia pública de Pouso Alegre: uma pedra no caminho do progresso republicano / Fernando Henrique do Vale e Ana Eugênia Nunes de Andrade
16:30 – 16:45
Aspectos socioambientais e econômicos da produção de morango no município de Bom Repouso, Minas Gerais /Artur Thales José Brandão e Alexandre Carvalho de Andrade
16:45 – 17:00
Eva Maria e João Pardo: as múltiplas faces da liberdade / Marileide Lázara Cassoli
17:00 – 17:15
Espaço, territorialidade e memória / José Roberto Gonçalves
17:15 – 17:30
Debates e questionamentos
17:30 – 18:00



GT 2 – 8/12
Coordenador: Juliano Iroshi Ikeda Ishimura (UNIVÁS)
Trabalho / autor (es)
Horário
Contabilidade ambiental e meio ambiente: convergências e divergências / Nelson Lambert de Andrade e Neide Pena Cária
16:00 – 16:15
Capitalismo monopolista de Baran e Sweezy: uma leitura introdutória / Caio Rennó José
16:15 – 16:30
Financeirização da lavoura / Cauê Chianca
16:30 – 16:45
Desenvolvimento e crescimento econômico no Brasil dos anos 60: o debate Furtado -Tavares / Caio Rennó José;Rafaela Carvalho
16:45 – 17:00
Remuneração estratégica e sua contribuição para empresa e colaborador / Janete Almeida Silva Santos e Marcelo Dionísio da Silva
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:00 – 18:00


GT 1 – 9/12
Coordenador: Alexandre Carvalho de Andrade (UNIVÁS - UNESP Rio Claro)
Trabalho / autor(es)
Horário
A urbe pousoalegrense em plena transformação urbana – 1880 a 1920 / Cleyton Antonio da Costa e Alexandre Macchione Saes
16:00 – 16:15
A região sul da cidade de Pouso Alegre: área de transformações socioespaciais recentes / Diego Garcia de Carvalho e Alexandre Carvalho de Andrade
16:15 – 16:30
Algumas considerações sobre a relação dialética entre mineração e meio ambiente em São Thomé das Letras (MG) / Roberto Marques Neto
16:30 – 16:45
Crescimento populacional, dinâmicas regionais e transformações socioespaciais no município de Cachoeira de Minas (MG) / Miller Augusto Costa Araújo e Alexandre Carvalho de Andrade
16:45 – 17:00
Desenvolvimento regional no Brasil: as contribuições de Rômulo de Almeida e Celso Furtado / Francisco Monticeli Valias Neto; Daniel Do Val Cosentino e Thiago Gambi
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:15 – 18:00



GRUPO DE TRABALHO: CULTURA E SOCIABILIDADE

GT 1 – 8/12
Coordenadora: Elizabete Maria Espindola (UNIVÁS - UFMG)
Trabalho / autor (es)
Horário
A ressaca vira festa – bloco pé de cana: o carnaval em Cachoeira de Minas / Ana Rosa Oliveira Reis e Andréa Silva Domingues
16:00 – 16:15
Associações religiosas mineiras: espaços de sociabilidade, hierarquização social e relações de poder /Cristiano Oliveira de Sousa
16:15 – 16:30
A criação da ACAMPA – Associação dos catadores de papelão de Pouso Alegre / Diego Marlier de Souza e Elizabete Maria Espíndola
16:30 – 16:45
Antonieta de Barros, educação, cidadania e gênero em Florianópolis na primeira metade do século XIX / Elizabete Maria Espíndola
16:45 – 17:00
Bambaê do Rosário, ecos de tambores africanos na região do Tocantins, no Pará / Benedita Celeste de Moraes Pinto
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:15 – 18:00



GT 2 – 8/12
Coordenador: Diego Natali Miranda (PUC/SP)
Trabalho / autor(es)
Horário
Cidade e formas de sociabilidade: uma reflexão sobre Santa Rita do Sapucaí- MG na década de 1960 / Diego Miranda Natali
16:00 – 16:15
Memórias e experiências dos nordestinos do bairro faisqueira na cidade de Pouso Alegre – MG / Bárbara Cristine Casallechi Fonseca Simões e Andrea Silva Domingues
16:15 – 16:30
Danças, festanças e lembranças: memórias e representações no espaço do Clube Operário Heliodorense / Frederico César Gonçalves Fernandes e Andrea Silva Domingues
16:30 – 16:45
O Arraiá do Zé Bagunça em Bueno Brandão (MG) / João Marcos Alexandre e Elizabete Maria Espíndola
16:45 – 17:00
Debates e questionamentos
17:00 – 18:00



GT 1 – 9/12
Coordenadora: Marileide Cassoli (UFMG)
Trabalho / autor(es)
Horário
O Clube 28 de Setembro em Pouso Alegre. Espaço de sociabilidade e resistência da cultura afrodescendente / Jonatas Roque Ribeiro e Elizabete Maria Espíndola
16:00 – 16:15
Carnaval belenense (1943-1946): o carnaval da vitória /Tatiane do Socorro Corrêa Teixeira
16:15 – 16:30
Além dos rebocadores: a população santista no limiar do século XX / Leandro da Silva Alonso
16:30 – 16:45
O museu Casa da Hera como espaço biográfico / Luciana Barros Pontes
16:45 – 17:00
Régio latissime patens: conflitos e tensões na fundação da diocese de Pouso Alegre - 1890-1916 / Rodrigo Franco Vilhena e Andréa Silva Domingues
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:15 – 18:00





GRUPO DE TRABALHO: ENSINO, DISCURSO E SOCIEDADE

GT 1 – 8/12
Coordenador: João Baptista de Almeida Junior (UNIVÁS)

Trabalho / autor(es)
Horário
Educação e o ensino de libras no sistema universitário /Ana Carolina Sales Oliveira e Andrea Silva Domingues
16:00 – 16:15
Jogos eletrônicos e história: novas maneiras de aprendizagem / Cássio Rafael Martins Santos e Juliano Hiroshi Ikeda Ishimura
16:15 – 16:30
A lei 10639/03 nos livros didáticos de história no ensino público estadual na cidade de Pouso Alegre-MG / Bruna de Fátima Brito e Andrea Silva Domingues
16:30 – 16:45
Uma revisão do que é História – do surgimento à sala de aula / Fábio Rodrigues Rizzo e Carlos Eduardo Ramos Compri
16:45 – 17:00
A inserção da sustentabilidade na formação de administradores / Beatriz Marcos Telles; Elaine Ribeiro de Oliveira e Arnoldo José de Hoyos Guevara
17:00 – 17:15
Brasil Império: Dom Pedro II e o parlamentarismo contado em charges / Tiago Mendes Viana e Ana Eugênia Nunes de Andrade
17:15 – 17:30
Debates e questionamentos
17:30 – 18:00




GT 2 – 8/12
Coordenadora: Maria Onice Payer (UNIVÁS)

Trabalho / autor(es)
Horário
Processos de identificação com a língua materna e a língua nacional na alfabetização de adultos
Jane Soares Almada                                                               
16:00 – 16:15
A memória de Minas Gerais na propaganda institucional da Rede Globo Minas
Mariana Fernandes Pereira
16:15 – 16:30
A memória discursiva, o folclore desmuseificado e o sagrado na folia de reis no Sul de Minas Gerais
Vívian Aparecida Ruela Silva
16:30 – 16:45
Um reflexo pela metade: a constituição do sujeito consumidor – um olhar sobre o filme "coro" da Coca-Cola
 Mônica Fernandes
16:45 – 17:00
Mané Tibiriçá: polifonia e catolicismo popular no cururu caipira
Paulo Donizéti Siepierski
17:00 – 17:15
A constituição do Acervo Institucional da FUVS/Univás como espaço de formação do historiador
Cristiano Guerra Leal; José Roberto Gonçalves
17:15 – 17:30
Debates e questionamentos
17:30 – 18:00



GT 1 – 9/12
Coordenador: João Baptista de Almeida Junior (UNIVÁS)

Trabalho / autor(es)
Horário
O espaço do negro no ensino superior: uma abordagem bioética da lei de cotas / João Baptista de Almeida Junior e Daniel Rodrigues da Silva
16:00 – 16:15
“Decifra-me ou devoro-te”: uma análise do interesse pelas imagens de Egito e Roma antigos no segmento de revistas de História: cuidados na utilização na prática de ensino em História / Juliano Hiroshi Ikeda Ishimura
16:15 – 16:30
A qualidade da educação no contexto das reformas educacionais sob a lógica do mercado / Neide Pena Cária
16:30 – 16:45
Educação inclusiva na prática: um relato de experiência /Susana Gakyia Caliatto e Lucimara Juliana Pagan Oliveira
16:45 – 17:00
As mudanças e inovações no perfil dos tecnólogos / Janete Almeida Silva Santos e Isabel Cristina Pereira Do Amaral
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:15 – 18:00


GT 2 – 9/12
Coordenador: Diego Natali Miranda (PUC/SP)
Trabalho / autor(es)
Horário
Adão Ventura: uma poesia-alarme / Rogério Lobo Sáber
16:00 – 16:15
Acervos e centros de memória: possibilidades de educação pela preservação da memória / Talita Barreto de Oliveira
16:15 – 16:30
Artes de fazer, artes do prazer: sociabilidade e prostituição feminina em Pouso Alegre (1969-1978) / Varlei Rodrigo do Couto e Elizabete Maria Espíndola
16:30 – 16:45
Usos dos carros de bois no comércio de Pouso Alegre na década de 30 / Juliano de Melo Gregório e Ana Eugênia Nunes Andrade
16:45 – 17:00
Memórias, vestígios e trajetórias que compõe a história da escravidão em Conceição dos Ouros, Sul de Minas Gerais / Viviane Tamiris Pereira e Elizabete Maria Espíndola
17:00 – 17:15
Debates e questionamentos
17:15 – 18:00