terça-feira, 23 de março de 2010

Espionagem, polícia política, censura e propaganda: os pilares básicos da repressão


Alexandre Costa

Bruno Dias

A história do regime militar pode ser contada de muitas maneiras, com uma variedade de aspectos analisados pela historiografia sobre o período, mudanças como na economia [Milagre Econômico], a repressão e a resistência ao regime são estudados de formas diferenciadas por historiadores até os dias atuais, e em cada aspecto uma nova abordagem é descoberta, mudando aos poucos o que foi escrito na época.
O interesse pelo período não é recente. As fontes, os objetos constituem-se a um só tempo e desde o período de 1964 jornalistas já fazem importantes análises sobre o regime, que se tornam fontes importantes para o estudo dos historiadores, em um período contemporâneo. As interpretações parciais necessitam de uma análise histórica, onde novas descobertas são feitas. A tortura e a repressão eram formas de imposição ideológica não permitindo quem tratava desses assuntos exporem a realidade dos fatos, mudando o pensamento e o olhar da sociedade sobre os acontecimentos. O medo tomava conta, e a manipulação era uma arma forte para a sobrevivência do regime. O uso de ferramentas como os esportes, o falso nacionalismo e o milagre econômico fornecem um campo aberto para a análise histórica.
Espionagem
Com a vitória da linha dura, ocorreu à criação do Serviço Nacional de Informações (SNI), responsável por coletar dados e cadastrá-los a respeito de quem o governo considerasse uma ameaça. Isso causava um monitoramento sobre essas pessoas que às vezes chegava a 24 horas. Foi uma vasta rede de espionagem que se espalhava por todo o país, e o general Golbery, responsável pela criação do serviço, afirmou: “Criei um monstro”. Foi aprovado o “Conceito Estratégico Nacional”, no qual estavam contidos todos os aspectos da política de governo, e com base nele o SNI criou o “Plano Nacional de Informação”, que definia como cada setor do sistema deveria funcionar. A espionagem variava de escutas telefônicas, recortes de jornais e relatórios redigidos a outros tipos mais pesados como prisões, interrogatórios e torturas.


Polícia Política
A polícia política atuava na prevenção e repressão de crimes políticos. Dessa forma, ela providenciava a incriminação de indivíduos obtida, sobretudo com base no interro­gatório com o recurso à tortura.
A polícia política funcionava, sobretudo, enquanto última instância repressiva, como instrumento de resposta mais forte, destinado a atuar depois de esgotados outros meios, para, ao punir o infrator, desencorajar novos desvios à ordem, instalando o medo na população.
Censura
A censura aos canais de informação e à produção cultural, ou seja, a editoração de livros, a produção cinematográfica e tudo que fosse referente à televisão foi intensa, tudo era acompanhado muito de perto pelos censores do governo. O objetivo principal era passar à população a idéia de que o país se encontrava na mais perfeita ordem, os jornais foram calados, obrigados a publicarem desde poesias até receitas no lugar das verdadeiras atrocidades pelas quais o país passava. A Música Popular Brasileira foi tratada como um ser nocivo pelo Estado, capaz de fazer mal à população. Segundo o governo, elas eram ofensivas às leis, à moral e aos costumes. A canção de protesto “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, do cantor Geraldo Vandré, tornou-se a mais cantada pelos manifestantes.


Propaganda
A propaganda ideológica foi uma das principais armas para fazer a população apoiar a ditadura a acreditar que ela era a responsável pelo crescimento do país. Slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o” e “Ninguém segura este país” foram estampados em todos os meios de comunicação para fazer uma verdadeira lavagem cerebral nas pessoas, omitindo todas as atrocidades que a ditadura militar cometia para se consolidar. Músicas exaltando a pátria eram executadas em todas as rádios (como “Este é um País Que Vai Pra Frente”), algumas enalteciam também a seleção brasileira de futebol (“Salve a Seleção”), entre outras. Enquanto isso, nos porões da ditadura ocorriam mortes e torturas, mas a propaganda fazia muitos acreditarem que o país passava por um momento áureo.


Resumo: FICO, Carlos. Espionagem, Polícia Política, Censura e Propaganda: os pilares básicos da repressão. In: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves, FERREIRA, Jorge O Brasil republicano: o tempo da ditadura – regime militar e movimentos sociais do século XX.