segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ecos marcados na rua Comendador José Garcia



A autora do livro Ecos marcados na rua: o cotidiano e as memórias na rua Comendador José Garcia, Alessandra Maria Rosa de Mello é graduada em História pela Universidade do Vale do Sapucaí e especialista em História, Sociedade e Cultura. Durante entrevista concedida aos repórteres André Almeida e Carla Barbosa do Bloco de Notícias ela afirma que a rua surge não somente como um caminho, mas uma artéria dando vida ao seu trajeto, mostrando as marcas tatuadas em suas margens.


BN - Como surgiu a ideia do livro “Ecos Marcados na Rua”?

A.M - Surgiu com o trabalho de conclusão de curso que eu fiz para o curso de história e pela paixão que eu tenho pela a nossa cidade de pesquisar mais sobre essas pessoas que dão nome as ruas e sobre 
os prédios arquitetônicos da nossa cidade.

BN - Como foi o processo de produção editorial do livro ?

A.M - Foi um processo difícil, é uma coisa complicada, muito minuciosa, mas é gostoso também, e foi 
bem legal.

BN - De todas as histórias dos comerciantes da rua descritas no livro, qual foi a que mais te impressionou?

A.M - Foi a do seu Leone, que ele fala assim “colei na comendador” que desde quando ele chegou em Pouso Alegre foi na rua que ele montou o comércio dele, construiu sua casa e está vivo até hoje com 91 anos de idade, e da dona Terezinha foi um relato muito sentimental para a sua família, o pai dela tinha 
um comércio no local.

BN - Que características da rua comendador José Garcia foram marcantes ao longo do seu estudo?


A.M - Quando eu comecei a entrevistar as pessoas, eles falavam que antes de 1943 a rua era de terra e tinha muitas porteiras e perto da Casa Sarkis tinha uma ferraria, o que eu penso é a transformação 
da rua mesmo, com a sua mudança se tornou uma rua comercial.

BN - Qual foi a importância de José Garcia Machado para a cidade de Pouso Alegre?

A.M - Foi uma pessoa muito importante para a cidade, ele ajudou a implantar asilos, hospitais e na construção da catedral anterior a essa, inclusive doando o terreno.

BN - Como foi a transformação da rua comendador José Garcia desde o início de sua existência, até os dias de hoje?

A.M - Foi uma transformação radical, ela era totalmente ruralizada, tinha matos, porteiras, vacas e cavalos, e hoje a gente só vê carros, motos, pessoas e comércios.

BN - Qual é o público alvo que você pretende atingir?

A.M - No começo seriam os estudantes de história, porque eu utilizei muito da história oral, mas agora eu já percebi que as pessoas mesmo fora da universidade também estão se interessando pelo livro.

BN - Por que foi escolhida a rua Comendador José Garcia?

A.M- A gente encontra muitos relatos da praça Senador José Bento, da Dr. Lisboa, do Mercado Municipal, do Teatro e da Comendador a gente quase não encontra nada. Nem quem era o comendador eu sabia. Não tem foto dele em nenhum lugar na cidade. Eu consegui com uma bisneta dele em um acervo familiar. Então isso me interessou, e eu também já morei na rua, então tem essa coisa sentimental que se misturou e acabou resultando nessa pesquisa.

BN - A história pode ser entendida como o conjunto das experiências humanas. Baseado nisso, quais as principais experiências que podemos dizer ter constituído a história da rua?
A.M - As experiências foram muitas, principalmente dos comerciantes por ser uma rua central da cidade e começaram a se apaixonar pelo lugar. As experiências são desde os causos de histórias engraçadas, até pessoas que se emocionaram ao ponto de chorar. Também a gente pode perceber o cemitério na rua que mostra a tristeza das pessoas que passam por ela, então são vários tipos de emoções misturadas.

BN- A rua Comendador José Garcia foi se tornando a veia comercial, o que isso interfere ou modifica na narrativa de sua história?

A. M - Eu a entendo como uma artéria principal, ela vai interligando todas as ruas do centro para os bairros, então pra mim, isso seria o principal do trabalho, uma rua comercial, uma artéria da cidade de Pouso Alegre.

BN - Há muitas edificações preservadas na rua?

A.M - Não, Pouso Alegre não tem essa cultura de preservação.

BN- Há alguma semelhança da antiga Comendador com a atual sem levarmos em conta as edificações?

A.M - De 1943 pra cá tem alguns edifícios que persistiram ao movimento da rua, mas como eram mesmo não.

BN - Podemos dizer que o antigo Hospital Regional, e hoje Samuel Libânio, foi o principal responsável pela popularização da rua?

A.M - Ele foi responsável por trazer a população, e não é só o hospital, junto com ele, barzinhos para poder atender os transeuntes que esperavam por atendimento, os consultórios médicos que tem aos arredores, enfim, tem que ter certa infraestrutura pra manter aquele hospital.

BN- Como registrar fatos importantes da história e da memória de pessoas e instituições pode contribuir com valores pedagógicos?

A.M - Seria trazer para educação, para sala de aula essas novas fontes históricas, trazer os filmes, os vídeos, as fotografias, as imagens, as interpretações, não só como os livros estão acostumados a utilizar. A imagem não é uma ilustração, ela tem que conversar com o texto.

BN- Você teve alguma dificuldade na elaboração do livro?

A.M - Algumas entrevistas não foram realizadas, muitas pessoas negaram, não sei se por vergonha, muitas vezes as pessoas marcavam e não apareciam.