terça-feira, 15 de maio de 2012

Canudos: a sétima arte como cenário histórico

Alessandra Mara de Melo Rosa

Este artigo tem como objetivo principal levar os alunos do Ensino Médio a analisar o filme “Canudos”, dirigido por Sérgio Rezende. O filme aborda aspectos importantes como o conflito de Antônio Conselheiro e seus beatos com os soldados do presidente Prudente de Morais, em uma fase conturbada da história do Brasil, onde se acredita que Conselheiro e seus seguidores eram adeptos a volta da monarquia, fato este nunca constatado realmente.

A guerra de Canudos foi um confronto entre o exército brasileiro e integrantes de um movimento de cunho popular com pano de fundo sócio-religioso, liderado por Antônio Conselheiro e durou de 1896 a 1897, na comunidade de Canudos no interior da Bahia; mas com a chegada de Conselheiro e seus seguidores o lugar foi rebatizado de Belo Monte.


O episódio ocorreu por vários motivos: como a forte crise econômica e social passada na região naquela época, os latifúndios improdutivos, as fortes secas e o grande desemprego. Fazendeiros daquela região se juntaram com a igreja e pressionaram o governo contra Conselheiro, falava-se que Conselheiro e seus seguidores iriam invadir cidades vizinhas e marchavam em direção a capital para derrubar o governo e instaurar a monarquia.
Após várias expedições na tentativa de invasão e destruição de Canudos frustradas, vem o último e definitivo golpe contra esses bravos, com a “matadeira”, foi o fim de Belo Monte e de sua população. Onde muitos foram degolados e todas as casas incendiadas.

Os filmes são ótimas fontes para o estudo de história, pois podem abordar aspectos do cotidiano em determinadas épocas, vestuário, hábitos alimentares, entre outros. A sétima arte recria cenários históricos de uma maneira diferente e pode tornar o ensino mais interessante e interativo.

E foi a partir das décadas de 1960, 1970 com o movimento da renovação da historiografia francesa (Nova Escola) surgiram novos métodos de se representar a história, a Nova História trouxe não só os documentos (escrito) como fontes, mas também o oral, o ilustrado, a música, o cinema:

“... a partir da década de 1960, quando as relações teórico-metodológicas entre o cinema e história tornaram-se objeto de estudo sistemático por parte de alguns historiadores, especialmente Marc Ferro e Pierre Sorlin, ligados à Escola dos Annales, no momento em que a historiografia ampliava seus horizontes e apresentava novos métodos e objetos de análise.”
Estamos na era da informação, a cada dia estamos mais atentos aos fatos, recebemos todo tipo de informação através do rádio, televisão, internet e vários outros, a partir daí pensemos a influência da mídia na formação do conhecimento humano:

“Essa é uma verdade incontestável no mundo
contemporâneo [...] a imagem domina as esferas do cotidiano do indivíduo urbano. E, em grande medida, esse fato deve-se à existência e à popularização dos filmes ditos históricos.”

A educação hoje exige novos pressupostos, o uso de novas fontes que se tornaram legitimadas, como outras fontes que anteriores a essa eram as únicas tidas como legítimas, assim a escola deve re-pensar suas práticas pedagógicas e introduzir essas novas fontes, como o uso da iconografia e do cinema como fontes históricas para os alunos:

“O ofício não é imutável. Suas transformações passam principalmente pela emergência de novas competências [...] ou pela acentuação de competências reconhecidas, por exemplo, para enfrentar a crescente heterogeneidade dos efetivos escolares e a evolução dos programas.
Todo referencial tende a se desatualizar pela mudança das práticas e, também, porque a maneira de concebê-las se transforma.”

É evidente que após assistir o filme em sala de aula, o aluno precisa estar preparado a apresentar criticidade sobre o mesmo. E perceber ainda, os elementos reais e de ficção presentes no filme.

É explicito que o professor como mediador na sala de aula deve ter consciência de sua responsabilidade ao trazer essas novas fontes para a sala e estar preparado a responder os diversos questionamentos que irão surgir.

Percebe-se que no âmbito escolar o filme é levado aos alunos somente como mera ilustração do conteúdo aplicado, professores estes ainda presos ao livro didático, ao modo tradicionalista de “passar o conhecimento” será que dessa forma se passa conhecimento? Deve-se acentuar a importância do cinema como fonte histórica e nos preocuparmos em preparar nossos alunos a analisar criticamente essas fontes, nós professores devemos ter o domínio do filme e do conteúdo veiculado a ele:

“... é importante porque traz para a escola aquilo que ela se nega a ser e que poderia transformá-la em algo vívido e fundamental: participante ativa da cultura e não repetidora e divulgadora de conhecimentos massificados, muitas vezes já deteriorados, defasados...”

Minha proposta então se refere a incentivar o aluno em sala de aula a construir um texto crítico abordando a Guerra de Canudos, utilizando o filme “Canudos” como fonte.

O cinema possui mensagens que traduzem valores culturais, sociais e ideológicos de uma sociedade, por isso ele é tão importante na ação pedagógica hoje no âmbito escolar.

Referências bibliográficas:

NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. Cinema e Ensino de História: Realidade Escolar, Propostas e Práticas na sala de aula. In: Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 5, nº 2, p. 1, jun. 2008.

NOVA, Cristiane. O cinema e o conhecimento da história. Olho da História, Salvador, v. 2, n. 3, p. 226, nov. 1996.

PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000, p. 14.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.



* Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade.