terça-feira, 15 de maio de 2012

A vinda da família real em quadrinhos

André Carvalho de Vilhena

Este trabalho se propõe defender o uso e a importância das histórias em quadrinhos dentro da sala de aula e no ensino de história. A temática de contextualização histórica do trabalho é A vinda da família real para o Brasil e a problemática desenvolvida vem a ser como o processo expansionista militar de Napoleão Bonaparte atuou na vinda da Corte Portuguesa de Dom João VI para terra brasileira?

Cada vez mais devido à globalização da informação e os veículos midiáticos como formadores de opinião e fonte intelectual, tem-se cabido ao professor a necessidade constante da busca e expansão por novas metodologias e ferramentas de trabalho. Atualmente com a amplitude de métodos de trabalho principalmente no ensino de história buscou-se perceber que a tarefa educacional não consiste apenas na transmissão e reprodução do conteúdo exigido pelos livros didáticos.

Preocupados com novas abordagens percebeu-se que era possível a educação através de novas fontes ligadas a produção social como histórias em quadrinhos, filmes, literaturas de cordéis, charges entre outras. Este estudo observará e analisará qual a melhor forma de trabalhar as histórias em quadrinhos em sala de aula desenvolvendo a capacidade no aluno de perceber os diálogos construídos relacionando-os às imagens visando também os benefícios didáticos proporcionados por essa ferramenta de ensino como o auxílio no desenvolvimento do hábito de leitura já que hoje é percebido o crescente desinteresse por essa prática, essencial para o ensino global.

A história em quadrinhos a ser trabalhada tem o título de: “Um país independente” e tem como pesquisador histórico Edson Rossatto e roteirista Jota Silvestre.

A história descreve a ida de três jovens [importante destacar as múltiplas características desses jovens, onde há uma nipo-brasileira um afro-brasileiro e um portador de necessidades especiais o que leva o aluno a reconhecer a multiplicidade étnica brasileira como também a conviver com as diferenças tanto raciais quanto físicas] ao Museu do Ipiranga em São Paulo, percebe-se a importância dada ao patrimônio nacional há uma reafirmação da história presente na sociedade. Os três protagonistas entediados no museu encontram um professor de história que lhes conta a história da vinda da família real para o Brasil, trabalhando o antecedente histórico que propulsou tal fato, o bloqueio continental. Construiu-se no enredo da história não um simples narrar de fatos, mas sim um jogo dialético de questionamentos desenvolvidos pelos próprios jovens através do raciocínio crítico, isso demonstra ao aluno a capacidade de absorção de conhecimento através do próprio questionamento e da própria dúvida.

A riqueza das histórias em quadrinhos e em especial desta, que trabalha de forma exímia a força crítica do diálogo juntamente com as imagens, aderindo a esta história o uso do mapa para demonstrar os países anexados ao Império Napoleônico como também o desenho caricaturístico dos principais personagens históricos como Napoleão Bonaparte, Dona Maria “a louca” e Dom João VI. Valdomiro Vergueiro com seu artigo sobre O uso das histórias em quadrinhos no ensino entende que a interligação do texto com a imagem, existente nas histórias em quadrinhos, amplia a compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos isoladamente teria dificuldades para atingir. Na medida em que essa interligação texto/imagem ocorre nos quadrinhos com uma dinâmica própria e complementar, representa muito mais do que um simples acréscimo de uma linguagem a outra, mais a criação de um novo nível de comunicação, que amplia a possibilidade de compreensão do conteúdo programático por parte dos alunos.

O professor de história, um personagem da trama e narrador do fato histórico, toca diretamente o psicológico do leitor de forma muito sutil, trabalhando a emoção e a curiosidade, força motivacional essencial para o interesse à aprendizagem. Trabalha ainda conceitos de cidadania como a gentileza, calma e sagacidade habilidades indispensáveis no mundo contemporâneo e raramente percebidas em nosso cotidiano e convívio atual. Este se mostra compreensivo à frustração dos jovens em não se interessaram pela história e se propõe a explicar o conteúdo aos mesmos sob um novo olhar com diferentes abordagens. Proporciona ainda em sua discrição aspectos sócio-econômicos com a intenção britânica em colaborar com a vinda da família real para o Brasil a fim de conquistar mercado consumidor no mundo e também aspectos culturais da corte como o transporte de pratarias, jóias e como descreve no enredo (...) “Dom João mandou embarcar o acervo da real biblioteca com raridades como a primeira edição de Os Lusíadas e também um prelo e tipos para prensa.” São abordados ainda aspectos curiosos cotidianos como a influência da família real nos costumes brasileiros quando Carlota Joaquina chega ao Brasil com um turbante na cabeça devido à proliferação de piolhos nos navios reais e logo o povo adere ao ornamento entendendo-o como moda européia.

A obra em estudo então mostra que os quadrinhos podem ser escritos com uma linguagem de fácil entendimento e também devem ao mesmo tempo introduzir novos conceitos e vocabulários de forma que o conhecimento ampliar-se-á quase que despercebidamente pelos alunos. Tais fatores observados constatam que de forma invariável os quadrinhos contribuem para o auxílio no desenvolvimento do hábito da leitura.  Assim, a ampliação da familiaridade com a leitura de história em quadrinhos, proporcionada por sua aplicação em sala de aula, possibilita que muitos estudantes se abram para os benefícios da leitura, encontrando menor dificuldade para concentrar-se nas leituras com finalidade de estudo.

O enredo analisado da história em quadrinhos traz ainda as dificuldades enfrentadas pelos viajantes dos navios portugueses, onde encontravam a falta de espaço e de suprimentos como a água, o que mostra ao aluno que as condições eram precárias mesmo para a corte portuguesa. Trabalha-se ainda abordando esta transição de Lisboa ao Rio de Janeiro, o conceito de tempo e suas dimensões: sucessão, duração e simultaneidade. Para utilização do conceito temporal usam-se principalmente os recordatários. Onde se lê ”Mais tarde...” ou “Logo depois...” pode ser um exemplo de sucessão e, de outro lado aquele que se lê “Enquanto isso...” pode facilitar o aluno a percepção de simultaneidade. Os elementos visuais utilizados para indicar uma passagem de tempo na história em quadrinhos podem ser usados para uma reflexão sobre os diferentes tempos: o tempo da natureza, o tempo do relógio ou o tempo biológico como lembra Túlio Vilela em seu artigo Os quadrinhos na aula de história.

Este artigo busca incitar o professor ao uso de novas ferramentas metodológicas, em especial as histórias em quadrinhos, percebendo sempre o caráter globalizador que proporciona condição de compreensão a qualquer estudante, sem necessidade de um conhecimento anterior ou específico ou familiaridade com o tema, seja ele ligado a antecedentes culturais, étnicos, lingüísticos ou sociais. As histórias em quadrinhos possibilitam ainda, com seu uso, a integração entre as diferentes áreas do conhecimento, possibilitando na escola um trabalho interdisciplinar e acima de tudo proporcionando de forma direta um bem maior ao estudante que a o desenvolvimento das diferentes áreas interpretativas como a visual e a verbal. 
    
Fonte:
História em quadrinhos - Independência do Brasil. Pesquisa histórica e argumento – Edson Rossatto. Roteiro - Jota Silvestre. Desenho – Laudo (com colaboração de Will). Apresentação – Roberto Araújo. Edição – Manuel de Souza.

Referências bibliográficas:
Barbosa, Alexandre. Como usar a história em quadrinhos em sala de aula/ Alexandre Barbosa, Paulo Ramos, Túlio Vilela, Ângela Rama, Waldomiro Vergueiro, (orgs). 2. Ed. – São Paulo : Contexto, 2005. – (Coleção como usar na sala de aula).


* Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade