quarta-feira, 16 de maio de 2012

Os significados das comemorações dos 500 anos do Brasil

Alexandre Lopes Costa
   
As comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil foram bastante conturbadas, houve muitos desencontros entre governante e grande parte da sociedade, a superprodução, a desorganização de agendas, gastos excessivos, descumprimento de protocolos, entre outros problemas que vamos analisar ao longo do artigo, foram os motivos de tais desentendimentos, o fato é que ficou uma interrogação na cabeça, com tantos problemas e a maioria da sociedade sendo deixada de lado, a programação por sua vez não foi cumprida, e houve muitos protestos na data, mostrando a realidade do país, os fatos repercutiram fortemente no exterior, passamos então a questionar, mesmo após 500 anos, será mesmo que temos motivos para comemorar?

Neste artigo pretendo mostrar os diferentes olhares através da mídia e da imprensa dos principais fatos que marcaram as comemorações dos 500 anos do Brasil, a programação dos festejos, a efervescência nas comemorações, os protestos e conflitos que ocorreram ao decorrer da programação do evento.

Todos os canais de comunicação estavam voltados a um só acontecimento, na semana do dia 22 de abril de 2000, a festa de comemoração dos 500 anos, os festejos foi um verdadeiro fiasco, que retratou sem intenção proposital, a real desordem e progresso em que vivemos.

O brasileiro é conhecido como um povo pacifico, a fantástica mistura de três etnias: índios, brancos e negros, um povo ordeiro e sem preconceitos, engana-se quem ainda pensa assim, hoje vivemos um momento de contestação desses estereótipos, que perduraram durante séculos. É possível observar essas mudanças através da comemoração do V Centenário do “Descobrimento” do Brasil. Até mesmo a palavra “Descobrimento’ já não esta mais sendo usada em alguns livros didáticos devemos rever alguns conceitos de nossa história e fazer uma longa reflexão.


A começar com os protestos dos verdadeiros donos da festa, os índios xavantes e mehinaku, que entregaram uma carta de protesto a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), presidente da República, dizendo: “não estamos comemorando nada”, “esta não é nossa comemoração”.

Comemorar do latim significa = “lembrar em conjunto”, comemoração e identidade estão intimamente ligados. Nesse sentido a memória e o esquecimento caminham juntos na construção de uma identidade. “Reconstruções do passado que revelam a sociedade que comemora, comportando discursos e contra discursos tornando as comemorações objetos criativos de reflexão histórica” (MATOS: 2000.p. 329 – 331).

A carta afirmava que "o povo brasileiro não conhece o povo indígena". Termina afirmando que os índios estavam ali com o objetivo de realizar "um ritual de passagem para transformar este lugar num país onde nosso povo possa viver".


Ainda em Porto Seguro, na Bahia, houve repressão aos protestos e 141 pessoas foram detidas entre elas jornalistas índios e civis que estavam sem intenção quaisquer nem resistência ofereceram.  No dia seguinte o presidente da FUNAI pediu demissão, dizendo que as autoridades tinham “temor ao povo” Uma manifestação pacífica não poderia acabar de tal forma mostrando se revoltado com a repressão.

A mídia televisiva fez proveito do acontecimento criando projetos como o da Rede Globo Brasil 500 entre outros, com shows e programas especiais, alguns jornais impressos divergiram em algumas idéias, uns davam foco a comemoração, aos acontecimentos, sem mostrar a realidade dos fatos, outros a uma reconstrução da realidade.


Outro acontecimento que marcou foi à demissão do Ministro dos Esportes e Turismo, que por sua vez fez denuncia de irregularidades, e falou sobre o uso mal feito de recursos e gastos excessivos e acabou tendo seu próprio partido contra si próprio.

A repercussão internacional foi imediata, de forma bastante negativa para a imagem do Brasil, a repressão, a corrupção, a desorganização das comemorações ganharam capa de jornais no mundo, em alguns casos até exageradamente como os jornais, El Pais e The New York Times, que focaram a violência. “Os índios aproveitaram celebração para denunciar a violência que é submetida”.

Uma série de gafes marcou os eventos, a presença de pouquíssimas pessoas a Missa dos 500 anos, a Igreja Católica se posicionou pedindo perdão aos índios e negros, uma atitude inédita, mas que se minimizou com o discurso de um índio Pataxó que chegou a causar mal estar ao perguntar aos presentes se não se envergonhavam do tratamento dado aos povos indígenas durante esses séculos, o índio foi bastante aplaudido.


A construção da polêmica e cara Nau da Capitania uma réplica que Cabral usou para chegar ao Brasil, feita especialmente para as comemorações custou uma fortuna, mas acabou não funcionando, e se tornou um símbolo do fracasso da festa.

Ao observar a apresentação desse trabalho pude perceber que a comemoração foi um acontecimento que se construiu por aquilo que o governo queria fazer e tentou realizar, e desconstruído por acontecimentos e pela intervenção dos sujeitos sociais.

Em minha opinião os acontecimentos, foram importantes para levantar questões e mostrar para o povo brasileiro que temos que rever e refletir. Existe muita coisa errada no nosso país, antes de comemorar da forma com que se pensa e festejar, devemos mudar e lutar sim, para a criação de uma identidade que é de suma importância para uma nação, a reivindicação dos direitos da maioria do povo, o uso do poder de nossos representantes deixa a desejar, a nossa República e nossa democracia não funcionam, somos enganados pelo direito de voto.  E nós brasileiros temos o direito de protestar de buscar pela melhoria pela mudança, e principalmente, por justiça sem sermos reprimidos, e abafados.

Devemos escrever a História e mostrar para as futuras gerações como ela realmente é, com o propósito de levantar questionamentos e discussões que possam surtir efeitos de mudanças no comportamento, na atitude do povo, e no ensino da História não como uma matéria “decoreba”, mais reflexiva onde a realidade, muitas vezes, passa despercebida aos olhares da maioria, devido à força dos meios de comunicação e do poder dos governantes que para seu beneficio próprio e sua própria imagem tenta esconder ou camuflar a realidade.

Referências Bibliográficas:

MATOS, Maria Exibida Santos de. Comemorar, Celebrar e Refletir: Sentidos da Comemoração, São Paulo VI, M.20 P329 -331, Abril, 2000

Público em missa é menor que esperado, FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo 27 Abril 2000.

LARA, Silvia Monteiro de Castro.  Produzida no âmbito da Pesquisa “Imagens do Brasil” no GRIS - versão reelaborada da monografia por Renato Guimarães de Souza, e Ricardo Fábio Mendonça.

 * Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade.